De acordo com Freitas (2019), o setor agropecuário é fundamental para a economia e a segurança alimentar globais. Nesse sentido, a combinação de inovações científicas e a implementação de novos insumos, tecnologias e boas práticas pelos produtores têm garantido um desempenho positivo no setor e a continuidade do abastecimento. Como exemplo, pode-se citar o segmento de grãos, cuja produção teve um crescimento de 120% nos últimos 20 anos, enquanto a área cultivada aumentou apenas 68% (Conab, 2022), ilustrando os ganhos em eficiência do setor. Entretanto, assim como inferem Neves e Imperador (2022), o segmento, também enfrenta constantes desafios, sobretudo no que tange à sustentabilidade ambiental e à inclusão social, visto que a transição agroecológica no Brasil enfrenta desafios relacionados à mudança de perspectiva sobre sistemas alimentares, exigindo a participação ativa dos atores locais na formulação de políticas públicas e na construção de novas relações de produção e consumo.
No entanto, a realidade brasileira mostra experiências fragmentadas e predominantemente técnico-produtivas, necessitando de avanços significativos em educação ambiental agroecológica e governança responsável para consolidar a transição agroecológica em um nível mais complexo e integrado. Ademais, a agropecuária é, hoje, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do país, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Responsável pela emissão de quase 500 milhões de toneladas em 2016, o que representa 22% de todas as emissões do Brasil. Com o objetivo de favorecer a criação e ampliação de soluções que vão além da produtividade, é que a pesquisa científica atua. Expandindo o seu protagonismo como um pilar essencial para transformar o agronegócio, promovendo práticas que conciliam a produtividade com a responsabilidade socioambiental.
A sustentabilidade ambiental no agronegócio diz respeito à adoção de práticas que mitiguem ou minimizem os impactos negativos das atividades sobre o meio ambiente. Diante disso, se extrai muitas linhas de pesquisas, como aponta Deunfeback, et al (2022). A agroecologia, por exemplo, busca desenvolver técnicas que melhorem a qualidade do solo, reduzam a necessidade de agroquímicos e promovam a biodiversidade. Na mesma direção, há desdobramentos sobre o uso eficiente da água e o manejo integrado de pragas, além de outros que visam preservar os recursos naturais e garantir a resiliência dos sistemas agrícolas diante do seu contexto ambiental local e das mudanças climáticas mundiais. Os estudos dessa linha também promovem além do desenvolvimento, o incentivo a novas parcerias e arranjos institucionais, como a Rede ILPF. Conforme destacado no relatório Visão 2030, da Embrapa, essa iniciativa visa a ampla adoção dos estudos em sistemas de integração por produtores rurais, bem como a intensificação sustentável da agricultura nacional.
A agricultura de precisão também se destaca ao prover e aplicar tecnologias avançadas, como drones, sensores e sistemas de informação geográfica (SIG), para monitorar e otimizar o uso dos recursos, como fazem algumas empresas alocadas na Inbatec UFLA, como a Agropixel Drones e Smart Farming. Essa abordagem permite que os agricultores tomem decisões mais informadas, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência produtiva. Nesse ponto, pode-se citar a contribuição acadêmica de universidades como a UFLA para o desenvolvimento e difusão de tecnologias, sobretudo por meio de grupos de estudos como o NESA - Núcleo de Engenharia em Sistemas Agrícolas, entre outros. Segundo o MAPA (2011), sistemas de irrigação de precisão podem resultar em uma economia de água de até 30%. Já no uso para insumos, o mesmo estudo aponta que a aplicação de fertilizantes e pesticidas podem ser reduzidas em até 20% com o uso de novas tecnologias, sem o comprometimento da produtividade. Assim, a produção acadêmica, ao gerar e disseminar conhecimentos inovadores, não só propicia avanços tecnológicos na agricultura de precisão, mas também fortalece a base científica necessária para práticas mais sustentáveis, o que auxilia de forma prática o desenvolvimento do setor agrícola, ao torná-lo mais eficiente e ambientalmente responsável.
Ademais, como abordam Facco, Diska e Silva (2021), os estudos voltados para as atividades do campo também acabam por aferir maior acessibilidade às atividades de extensão no meio rural, uma vez que fomenta não só a importância da reflexão sobre as atividades realizadas na prática docente (práxis), como também estudos e análises. Isso pois, a pesquisa não se limita aos aspectos ambientais; ela também desempenha um papel crucial na promoção da inclusão e desenvolvimento social. A exemplo, tem-se o Programa Rural Sustentável (PRS - Cerrado) o qual fornece capacitação em práticas sustentáveis e de baixa emissão de carbono para a agropecuária. Além de cursos presenciais e dias de campo, ele inclui educação a distância e oportunidades de mestrado profissional em parceria com a UFLA, visando sobretudo capacitar produtores rurais e agentes de assistência técnica. Com o mesmo intuito, o AGRITECH UFLA busca atuar no meio também de forma extensionista, baseado nas pesquisas que fomenta e desenvolve. A mais recente delas foi na promoção de capacitação e suporte técnico aos produtores de cooperativas de café da região. Baseado na vivência obtida por meio da pesquisa de campo, foi possível identificar tanto demandas técnicas, que os ajudassem na produtividade e renda, bem como profissionais, voltadas para o Marketing e Gestão Financeira da atividade. Essa devolutiva prática diante da pesquisa catalisa um ciclo virtuoso que contribui para a redução das desigualdades sociais no campo e para a promoção de um desenvolvimento rural mais equitativo.
Além disso, a pesquisa também tem impacto na criação e deliberação de políticas públicas voltadas para o agronegócio, de modo a estabelecer programas de apoio que beneficiem os produtores de menor escala e incentivem práticas agrícolas sustentáveis ao nível de grandes produções. Ademais, estudar os impactos sociais e econômicos das políticas já existentes possibilita ajustes e melhorias que garantam maior eficácia e inclusão. Outro importante fruto da pesquisa científica no agronegócio é a inovação tecnológica. Novas cultivares mais resistentes a pragas e doenças, técnicas de cultivo que aumentam a eficiência e a produtividade, e soluções biotecnológicas que mitigam o impacto ambiental são apenas alguns exemplos das inovações que surgem dos laboratórios de pesquisa.
Em vista destas evidências e exemplos é que se pode-se inferir que, possivelmente, as pesquisas citadas voltadas para o meio, representam ganhos exponenciais à cadeia rural, devido ao crescimento e cooperação intrínseco ao seu desenvolvimento e aplicação à medida em que amadurecem em seu desenvolvimento e resultados. Nesse sentido é que a transferência de conhecimento, através de parcerias entre instituições de pesquisa, universidades e produtores rurais, se faz fundamental para que qualquer resultado, conclusão ou inovação chegue ao campo. Projetos colaborativos e redes de cooperação científica permitem a disseminação de tecnologias e práticas sustentáveis, promovendo um agronegócio mais moderno, mas também unido, integrado, multidisciplinar e responsável.
A pesquisa científica é um motor poderoso para a transformação do agronegócio em um setor mais social e sustentável. Ao desenvolver tecnologias inovadoras, promover práticas ambientais responsáveis e incentivar a inclusão social, a ciência abre caminhos para um futuro em que a produção de alimentos e a preservação ambiental caminham lado a lado. Investir em pesquisa e extensão rural é, portanto, investir em um agronegócio que alimenta o presente, semeando seu próprio e próspero futuro.
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