A Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) é um movimento mundial que estabelece uma relação direta e colaborativa entre agricultores e consumidores, oferecendo uma alternativa ao mercado convencional de alimentos. Originado na década de 1960, simultaneamente na Suíça e no Japão, o modelo CSA foi concebido para apoiar os agricultores, garantindo uma produção sustentável e de alta qualidade [1, 5].
No modelo CSA, os consumidores, também conhecidos como "coagricultores", financiam antecipadamente as atividades agrícolas ao se comprometerem com o orçamento anual dos produtores. Em contrapartida, recebem regularmente produtos frescos e de qualidade. Essa abordagem permite que agricultores e coagricultores compartilhem tanto os riscos quanto os benefícios da produção, promovendo a estabilidade econômica e social da agricultura familiar e incentivando práticas ambientalmente responsáveis [2].
O Movimento CSA no Brasil
No Brasil, o movimento CSA começou a ganhar força no início da década de 2010, com o apoio de organizações como a CSA Brasil, que promove a criação de redes de apoio locais. A proposta é que os coagricultores se tornem corresponsáveis pela produção de alimentos orgânicos e agroecológicos, desenvolvendo um sistema em que consumidores e produtores estão intimamente conectados e onde o valor dos alimentos vai além do preço de mercado. Essa iniciativa não só atende à crescente demanda por alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos, mas também contribui para uma economia mais justa e solidária [6].
A Lógica do "Apreço" e os Benefícios do Modelo CSA
Um aspecto fundamental do modelo CSA é a lógica do "apreço", onde os consumidores valorizam não apenas o produto final, mas também o processo de produção e o bem-estar dos produtores. Isso cria uma economia baseada na confiança e na transparência. Além disso, o modelo ajuda a reduzir o desperdício, reduz a pegada de carbono ao encurtar as cadeias de transporte, além de valorizar o consumo local e sazonal. Os coagricultores têm a oportunidade de acompanhar de perto os métodos de cultivo e a dedicação dos agricultores, incentivando práticas agrícolas sustentáveis. Essa proximidade fortalece o sentimento de pertencimento e a responsabilidade compartilhada, pilares fundamentais da filosofia CSA [4, 3].
Exemplo Prático: CSA Horta Pro Nóbis em Lavras, Minas Gerais
Um exemplo desse modelo é a CSA Horta Pro Nóbis, localizada em Lavras, Minas Gerais. Fundada em 2017, tem como objetivo promover uma produção agrícola sustentável e fortalecer a agricultura familiar na região. Na CSA Horta Pro Nóbis, os coagricultores participam ativamente não apenas como consumidores, mas também auxiliando nas decisões sobre o cultivo e o gerenciamento das atividades agrícolas. Essa participação ativa permite a criação de uma cadeia de valor diferenciada, onde os produtos representam não apenas valor nutricional, mas também um compromisso com a sustentabilidade, a justiça social e o apoio direto aos agricultores locais [4, 6].
Considerações Finais
O movimento CSA representa uma mudança na forma como os alimentos são produzidos e consumidos. Ao estabelecer uma relação direta entre produtores e consumidores, promove-se uma economia mais sustentável, justa e solidária, que valoriza não apenas o produto final, mas todo o processo que o envolve.
Referências
CSA Brasil. (n.d.). CSA no Brasil. Recuperado em 6 de novembro de 2024, de https://www.csabrasil.org.br/csa-no-brasil
Fonte, M., & Cuoco, I. (2017). Cooperatives and alternative food networks in Italy. The long road towards a social economy in agriculture. Journal of Rural Studies.
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Paiva, C. (2019). Do preço ao apreço: uma análise da construção de mercados na CSA. ENANPAD.
Renting, H., & Banks, J. (2003). Understanding alternative food networks: Exploring the role of short food supply chains in rural development. Environment and Planning A, 35(3), 393–411. https://doi.org/10.1068/a3510
Rezende, D. C., Paiva, C. M. N., & Leme, P. H. M. V. (2021). Comunidade que suporta a agricultura (CSA) como um arranjo de mercado alternativo: uma ordem de valor ativista baseada no apreço. Revista Interdisciplinar de Marketing, 11(2), 182-195. https://doi.org/10.4025/rimar.v11i2.56517
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