Refletir sobre o papel da mulher na agricultura nos leva a considerar a profundidade e a complexidade de suas contribuições. Muitas vezes, as mulheres que cultivam a terra e sustentam suas famílias permanecem invisíveis nas narrativas predominantes sobre o agronegócio. Contudo, ao mergulharmos em suas histórias, percebemos que elas são verdadeiras agentes de mudança, enfrentando desafios significativos e lutando por reconhecimento. Segundo Rafael Zavala (2019), representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura no Brasil, as mulheres rurais não apenas contribuem significativamente para a produção de alimentos, mas também são essenciais na preservação da biodiversidade e na promoção da segurança alimentar.
No dia 15 de outubro é comemorado o Dia Internacional das Mulheres Rurais. Pesquisando sobre o tema, me deparei com a chamada Marcha das Margaridas, um dos maiores movimentos de mulheres do campo no Brasil. Desde 2000, milhares de mulheres se reúnem em Brasília para reivindicar seus direitos e visibilidade, buscando transformar suas vozes em uma força coletiva. Este evento não é apenas uma manifestação; é um ato de afirmação de identidade e luta por um Brasil mais justo. Ao marchar, essas mulheres trazem à tona questões fundamentais, como a necessidade de políticas públicas que reconheçam e apoiem seu papel como agricultoras e gestoras de recursos, a violência contra a mulher no campo e a fome.
É interessante e inspirador observar que a luta por reconhecimento vai além de reivindicações de direitos; para muitas mulheres, isso significa transformar a dinâmica familiar e a forma como são percebidas dentro da sociedade. No dia a dia, elas enfrentam o desafio de serem vistas não apenas como “ajudantes” na produção agrícola, mas como protagonistas de suas próprias histórias. A mudança começa na conscientização de que sua contribuição é valiosa e indispensável, e que a igualdade de gênero no campo não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente.
Além de movimentos como a Marcha das Margaridas, organizações específicas da cadeia produtiva, como a Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), também desempenham um papel crucial nessa busca por igualdade e visibilidade. Fundada nos Estados Unidos e presente no Brasil desde 2012, a IWCA é uma rede global dedicada à promoção das mulheres em toda a cadeia produtiva do café, do campo à xícara. No Brasil, a IWCA atua como um espaço de troca de conhecimentos e experiências, buscando reduzir as barreiras enfrentadas pelas mulheres em todos os elos dessa cadeia produtiva. A organização reconhece e promove o papel estratégico que as mulheres desempenham no café, seja na lavoura, seja na comercialização.
Algumas iniciativas como treinamentos promovidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR Minas) em parceria com a IWCA têm contribuído para capacitação de mulheres em gestão de propriedades, processos de colheita e classificação de café, reforçando a presença ativa feminina em todos os aspectos do negócio.
Além disso, iniciativas como os treinamentos promovidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR Minas) têm ampliado a capacitação de mulheres em diversas áreas, como gestão de propriedades, processos de colheita e classificação de café. Esse tipo de formação é fundamental para reforçar a presença ativa das mulheres em todos os aspectos do negócio, ajudando a consolidar sua posição na agricultura moderna. No entanto, o acesso a recursos como crédito e assistência técnica ainda é limitado para muitas mulheres rurais. Programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) representam avanços importantes, mas são apenas o começo. É fundamental que essas mulheres sejam empoderadas não apenas financeiramente, mas também por meio de educação e suporte técnico que lhes permitam gerenciar suas propriedades com autonomia.
Compreender sobre o papel das mulheres na agricultura é, portanto, entender que elas são agentes de transformação. Ao desafiar as normas sociais e buscar reconhecimento, elas não estão apenas lutando por si mesmas, mas abrindo caminhos para as futuras gerações. Ao apoiar essas mulheres, promovemos não apenas a igualdade de gênero, mas também um futuro mais sustentável para a agricultura e para o nosso planeta. A luta por reconhecimento e direitos é, em última análise, uma luta pela dignidade e pela construção de um mundo onde todos tenham a oportunidade de prosperar.
REFERÊNCIAS
ARZABE, C. et al. Mulheres dos cafés no Brasil. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://iwcabrasil.com.br/ebook.pdf>. Acesso em: 14 out. 2024.
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SILVA, Alessandra Maria da; PONCIANO, Niraldo José ; SOUZA, Paulo Marcelo de. PRONAF E EMPODERAMENTO DAS MULHERES RURAIS. UMA ANÁLISE DAS DIMENSÕES ECONÔMICA, SOCIAL E POLÍTICA. Revista Grifos, v. 30, n. 51, p. 236–256, 2020. Disponível em: <https://pegasus.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/grifos/article/view/5531>. Acesso em: 27 set. 2024.
ZAVALA, Rafael. Artigo – O papel da mulher na segurança alimentar. Ministério da Agricultura e Pecuária. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/artigo-2013-o-papel-da-mulher-na-seguranca-alimentar>. Acesso em: 27 set. 2024.
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